Gabriel Pereira Borges Fortes
No Palácio do Catete, embarafustando pelo gabinete presidencial a dentro, o secretário impertinente exclamou:
Presidente, Presidente! de que encargo impossível me incumbiu! o Padre é louco! Ao lhe perguntar a que distância um do outro queria que os navios fossem colocados, na baía da Guanabara, para que a sua voz fosse transmitida, sem fio, de uma embarcação para a outra, por meio de aparelhos que afirmava ter inventado, o Padre me respondeu: na baía não, mas em alto mar e distanciados por milhas e milhas, com muito longo espaço de permeio. Isto já me deixara espantado, mas ele foi muito além no absurdo, pois declarou que, se lhe dessem um feixe de luz contínua, mandaria a sua voz a outro lado do mundo! Não precisou dizer mais nada: concluí logo que o Padre não está com o seu juízo perfeito.
Mais ou menos isso - presumimos - foi o que disse ao Presidente da República o seu secretário particular, que encarregara de ouvir o sacerdote requerente e ajudá-lo no que pretendia, se possível.
Foi outra das grandes decepções, entre tantas, do Padre Landell de Moura: não foi atendido e assim não conseguiu realizar a experiência, que tinha certeza seria realizada com eficiência e definitiva.
Antes, já realizara demonstrações públicas em São Paulo com todo o êxito, com a presença de jornalistas, provando que os aparelhos que inventara funcionavam bem e, portanto, que seu invento de transmitir sons à distância, prescindindo de fios, era uma realidade. O grande acontecimento repercutiu com destaque na imprensa paulistana.
Mas naquele Estado, seus paroquianos assustados, ao saberem que o pároco tinha construído uma infernalidade de aparelhos que transmitiam a voz pelo ar, sem fio, - imaginem só! - invadiram a sua oficina e ali tudo destruíram, convencidos de que o sacerdote, de atividade misteriosa, só poderia ter mesmo parte com o demo, estava perdidamente endemoninhado! Oh! santa ignorância e atrevimento desabusado.
O paciente servo de Deus obteve transferência dali e, com humildade e resignação cristãs, tudo reconstruiu e continuou os seus experimentos.
Mais tarde um pouco, foi aos Estados Unidos da América do Norte - onde sempre houve muito rigor para a obtenção do registro de invenções - e lá comprovou à saciedade a eficiência do seu invento do rádio - denominação posteriormente dada - e conseguiu patenteá-lo.
Foi no regresso ao Brasil que fez a solicitação à Presidência da República, para realizar a experimentação da transmissão da voz entre os navios em alto mar, com seu aparelhamento patenteado e pois eficiente, e, devido à obtusidade do secretário presidencial e do desinteresse lamentável do Presidente da República, sofreu o Padre Landell de Moura a grande e triste decepção da recusa e a ofensa de ser tachado de louco! E não faz muitos anos, cientistas americanos comprovaram - até isso - que por meio de um feixe de luz contínua é possível transmitir sons à distância. E o sacerdote rio-grandense já tivera essa idéia e afirmara essa possibilidade no princípio do século passado!
E assim, perseguido, desacreditado, desestimulado, de decepção em decepção na sua pátria, o Padre Landell de Moura desistiu de tudo, retornando a Porto Alegre, sua terra natal, e então como pároco da antiga igreja de Nossa Senhora do Rosário, à rua Vigário José Inácio, dedicou-se de corpo e alma ao sacerdócio, somente ao sacerdócio, com extrema dedicação aos paroquianos, principalmente aos pobres, até o seu falecimento.
Seria evidentemente ocioso discutir agora se Marconi o antecedeu na comprovação da invenção do rádio. Não cabe mais discutir isso.
O genial gaúcho Padre Landell de Moura aqui no Brasil e Marconi na Itália, muito longe um do outro, inventaram o rádio, - isso referido só para argumentar - mas bastaria essa consideração tão somente para que obtivesse, como imperativo de justiça, a consagração nacional de pioneiro legítimo da telefonia sem fio. Mas infelizmente não houve esse reconhecimento, a não ser em parte, no Rio Grande do Sul.
E, no entanto, está provado, como o demonstraram Ernani Fornari e o jornalista B. Hamilton Almeida, com documentos incontestáveis, que a primazia dessa invenção cabe, sem mais dúvidas, ao Monsenhor Roberto Landell de Moura.
E o porto-alegrense autor desse notável invento ainda não recebeu dos seus patrícios a aceitação cabal dessa prioridade, a que tem lídimo direito, e as homenagens à altura dos seus méritos incontestes.
Verdade que, de tempos em tempos, é lembrado e homenageado neste Estado - e já referimos que isso ocorre apenas em parte - mas não obteve ainda o completo aceitamento da sua pátria, de todo o Brasil, como lhe é devido.
Em Porto Alegre tem recebido grandes e justas homenagens.
É muito antiga a sentença: “Se serviste bem à tua pátria, cumpriste com o teu dever; e, se ela te foi ingrata, é o que costuma fazer!”
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